sábado, 8 de maio de 2010

Auto-análise

Nesses últimos dias tenho sentido vontade de ser mais artista. De ter mais compromisso, de ser mais responsável. Nesses últimos dias tenho sentido. Será que isso é bom? Deve ser. Faz muito tempo que não escrevo, nem mesmo uma mensagem eletrônica para algum amigo distante. Não tenho escrito nem mesmo para Viviane. Imagina o que é ficar sem ter contato com Viviane. Nesses últimos tempos o sol tem brilhado em tons de cinza. Não me faltam coisas para fazer ou para ver ou para saber. Mas me falta vontade... Acabo de me colocar no meio de uma grande contradição, não. Acho que não. Acho que o desejo de sentir e de ser faz parte a constatação.

Constato nesse momento o que já sei a muito e por isso mesmo não me traz nenhuma novidade: De nada tenho verdadeira vontade.

Forçosamente escrevo para que assim a vontade de escrever apareça.

Outra coisa acaba de me vir ao pensamento, importante e completamente relevante à situação. Qual a origem? Sim, a origem da falta de vontade: Sem traumas, uma vida relativamente feliz por ter superado e conquistado muitas coisas, e coisas que certamente são de se admirar. Enfim. Sem vontade de filosofar sobre processos emocionais. Estaria eu com preguiça de pensar? Ou será o medo que me rodeia as noites e dias? Bem sei que ando realmente com medo de sair à rua, mas isso também não é nenhuma exclusividade. Quem hoje em dia não teria medo de sair à rua. Pelo menos um suspiro de medo?

Outro dado importante: Eu enjôo, se passo muito tempo fazendo a mesma coisa enjôo. Não me sinto desafiado, isso é fato, mesmo assim tenho sentido medo de desafios. Bem! Seria medo ou cansaço? Acho que estou cansado, cansado até mesmo dos momentos onde nada faço. Estaria eu cansado da vida? Esse é o tipo de conflito de poeta romântico apaixonado e tuberculoso. Estaria então idealizando a vida e por isso mesmo cansado já que a vida idealizada nunca será real? Os poetas românticos são a prova do que digo. Acho que começo a perceber que talvez seja isso. Quase todo grande artista sustenta sua arte numa grande dor, no vazio sem limites, numa falta que não se preenche. Se eu estiver certo tenho agora só mais uma coisa a descobrir: Qual meu mote romântico que inspira sofrimento? Pois! Se isso fosse fato meu sofrimento já teria virado odisséia narrada por mim mesmo ou pelo menos algumas dúzias de sonetos. Alguém ainda escreve sonetos? Lembro da professora o definindo como poema composto por dois tercetos e dois quartetos. Quais eram meus sonhos nesse tempo? Eu sonhava em ser artista talvez. Quando pequeno tentava descobrir como as poesias entravam na televisão, acho que as crianças de hoje não são tão ingênuas. E se sonhava em ser artista, agora que talvez o possa ser, então porque não tenho vontade? Deixo passar o tempo ao passo torturante das horas. Como elas passam rápido ainda que as vezes demorem tanto a sair do mesmo lugar.

Nesses últimos dias tenho pensado em pensar mais. Um bom primeiro passo talvez seja esse. Pensar sobre mim mesmo.


Maick Barreto